De como o EZLN vêem o mundo
Trecho da Sexta Declaração da Selva Lacadona.
"O capitalismo é um sistema social, ou seja, como as coisas e as pessoas se organizam na sociedade: quem tem e quem não tem; quem manda e quem obedece. No capitalismo alguns têm dinheiro, ou seja, capital, e fábricas, e lojas, e campos, e muitas coisas, e outros não têm nada mais que sua força e seu conhecimento para trabalhar; e no capitalismo os que têm o dinheiro e as coisas mandam, e os que só tem sua força de trabalho obedecem.
E desse modo, capitalismo significa que existem uns poucos que têm grandes riquezas, mas não por que ganharam um prêmio ou encontraram um tesouro, ou herdaram de um parente, conseguiram essas riquezas apenas com a exploração do trabalho de muitos. Ou seja, que o capitalismo se sustenta com a exploração dos trabalhadores, o que quer dizer que é como se espremessem os trabalhadores para sugar deles todo o lucro possível. Isso se faz com injustiça, porque não pagam ao trabalhador o quanto realmente vale seu trabalho, mas lhes oferecem um salário para que possa comer um pouco, e descansar outro tanto, e, no outro dia, regressar para trabalhar no "explotódromo", seja no campo ou na cidade.
E também o capitalismo faz sua riqueza com a desapropriação, ou seja, com o roubo, porque tira tudo que deseja dos outros, como, por exemplo, terras e riquezas naturais. Ou seja, que o capitalismo é um sistema em que os ladrões estão livres e são admirados e apresentados como exemplo.
E além de explorar e desapropriar, o capitalismo reprime, porque prende e mata àqueles que se rebelam contra a injustiça.
Ao capitalismo são as mercadorias aquilo que mais lhe interessa, porque quando se compra e se vende se obtém o lucro. E, desse modo, o capitalismo converte tudo em mercadoria, transforma as pessoas, a natureza, a cultura, a história, a consciência em mercadoria. De acordo com o capitalismo é possível comprar e vender tudo. E ele esconde tudo atrás das mercadorias para que não enxerguemos a exploração existente. E então as mercadorias se compram e se vendem em um mercado. E o resultado é que o mercado, além de servir para comprar e vender, também serve para esconder a exploração que se faz dos trabalhadores. Por exemplo, no mercado, vemos o café empacotado, no seu saquinho ou no seu pote muito bonitinho, mas não vemos o campesino que sofreu para colher o café, e não vemos o atravessador que pagou muito barato por seu trabalho, e não vemos o trabalhador em uma grande empresa que trabalha duro para empacotar o café. Ou então vemos um aparelho para escutar música, e vemos que está muito bom porque tem um bom som, mas não vemos a operária da empresa maquiladora que batalhou muitas horas para colocar os cabos e as partes do aparelho, e apenas lhe pagaram uma miséria de dinheiro, e ela vive longe do trabalho e gasta um tanto com a passagem, e além disso corre perigo que a sequestrem, que a violem e que a matem."
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